É isto um homem?

Título original: Se questo è un uomo
Autor(a): Primo Levi
Ano da edição: 1988
Editora: Rocco
Gênero: Biografia
Catalogação: Memorial Italiano
Sinopse: "É isto um homem?" é um libelo contra a morte moral do indivíduo. No livro, o escritor e químico italiano Primo Levi relembra seu sofrimento num campo de extermínio, sem, contudo, invocar qualquer resquício de autopiedade ou vingança. Deportado para Auschwitz em 1944, entre outros 650 judeus italianos, Levi foi um dos poucos que sobreviveram, retornando à Itália em 1945.

TRECHOS EXTRAÍDOS NA LEITURA DO LIVRO 
“O primeiro mandamento do homem é perseguir seus intentos por meios idôneos, e que, quem erra, paga”. 
"Cedo ou tarde, na vida, cada um de nós se dá conta de que a felicidade completa é irrealizável; poucos, porém, atentam para a reflexão oposta: que também é irrealizável a infelicidade completa. Os motivos que se opõem à realização de ambos os estados-limite são da mesma natureza; eles vêm de nossa condição humana, que é contra qualquer 'infinito'. Assim, opõe-se a esta realização o insuficiente conhecimento do futuro, chamado de esperança no primeiro caso e de dúvida quanto ao amanhã, no segundo. Assim, opõe-se a ela a certeza da morte, que fixa um limite a cada alegria, mas também a cada tristeza. Assim, opõem-se as inevitáveis lides materiais que, da mesma forma como desgastam com o tempo toda a felicidade, desviam a cada instante a nossa atenção da desgraça que pesa sobre nós tornando a sua percepção fragmentária, e, portanto, suportável”. 
“São poucos os homens que sabem enfrentar a morte com dignidade, e nem sempre são aqueles de quem poderíamos esperar”. 
“Pela primeira vez, então, nos damos conta de que a nossa língua não tem palavras para expressar esta ofensa, a aniquilação de um homem. Num instante, por intuição quase profética, a realidade nos foi revelada: chegamos ao fundo. Mais para baixo não é possível. Condição humana mais miserável não existe, não dá para imaginar. Não mais é nosso: tiraram-nos as roupas, os sapatos, até os cabelos; se falarmos, não nos escutarão - e, se nos escutarem, não nos compreenderão. Roubarão também o nosso nome, e se quisermos mantê-lo, deveremos encontrar dentro de nós a força para tanto, para que, além do nome, sobre alguma coisa de nós, do que éramos”. 
“Quem perde tudo, muitas vezes também perde a si mesmo”. 
“Quando a necessidade aperta, aprende-se em breve a apagar da nossa mente o passado e o futuro”. 
“Ai de quem sonha! O instante no qual, ao despertar, retomamos consciência da realidade, é como uma pontada dolorosa”. 
“A capacidade humana de cavar-se uma toca, de criar uma casca, de erguer ao redor de si uma tênue barreira defensiva, ainda que em circunstâncias aparentemente desesperadas, é espantosa e mereceria um estudo profundo”. 
“A convicção de que a vida tem um objetivo está enraizada em cada fibra do homem; é uma característica da substância humana. Os homens livres dão a esse objetivo vários nomes, e muitos pensam e discutem quanto à sua natureza”. 
“Assim é a natureza humana: as penas padecidas simultaneamente não se somam em nossa sensibilidade; ocultam-se, as menores atrás das maiores, conforme uma lei de prioridades bem definida”. 
“Frente à pressão da necessidade e dos sofrimento físico, muitos hábitos, muitos instintos sociais são reduzidos ao silêncio”. 
“Entre os homens existem duas categorias, particularmente bem definidas: a dos que se salvam e a dos que afundam”. 
“É raro que alguém cresça em poder além de todo limite, ou desça, numa derrota continuada, até a extrema ruína. E, ainda, cada qual possui, em geral, reservas tais - espirituais, físicas e também econômicas - que a eventualidade de um naufrágio, de uma incapacidade perante a vida, resulta ainda mais improvável”. 
“Considera-se tanto mais civilizado um país, quanto mais sábias e eficientes são suas leis que impedem ao miserável ser miserável demais, e o poderoso ser poderoso demais”. 
“Na história e na vida parece-nos, às vezes, vislumbrar uma lei feroz que soa assim: ‘a quem já tem, será dado; de quem não tem, será tirado’”. 
“Se os submersos não têm história, se o caminho da perdição é único e largo, os caminhos da salvação são muitos, difíceis e inimagináveis”. 
“Ser julgado poderoso é meio caminho andado para se tornar realmente poderoso e que sempre uma aparência digna de respeito é a melhor garantia de ser respeitado”. 
“Para quem não disponha de sólidos recursos interiores, para quem não saiba tirar da consciência de si a força necessária para ancorar-se à vida, só há um caminho para a salvação: o da loucura e da bestialidade traiçoeira. Os outros caminhos são sem saída”. 
“A fama de boa sorte resulta de utilidade essencial a quem sabe consegui-la”. 
“O terror é especialmente contagioso e o ser apavorado procura, antes de tudo, a fuga”. 
“Pensar não serve para nada, porque os fatos acontecem, em geral, de maneira incompreensível; pensar é, também, um mal porque conserva viva uma sensibilidade que é fonte de dor, enquanto uma clemente lei natural embota essa sensibilidade quando o sofrimento passa de certo limite”. 
“Uma parte da nossa existência está nas almas de quem se aproxima de nós; por isso, não é humana a experiência de quem viveu dias nos quais o homem foi apenas uma coisa ante os olhos de outro homem”.
Texto e Imagem: Google
📚 Biblioteca Pessoal

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