Setembro-amarelo*


Os Titãs já diziam em sua música: “cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração”.
Sabe sim, e há, em cada um de nós, uma dor que o outro nunca vai sentir...
Porque nossas dores são individuais e intransferíveis.
São dores que a gente sente nas mais diversas situações, dores que partem da alma...
Dói perder um ente querido, pai, mãe, filho, porque laços sanguíneos são também laços espirituais, e por mais que as diferenças existem, há um amor que transcende qualquer adversidade.
Dói perder um grande amor, quando um relacionamento acaba; mas dói também viver numa relação sem reciprocidade, sem respeito, que abusa dos nossos sentimentos, que viola nossos direitos como seres humanos, que agride nosso corpo.
Dói perder um emprego, principalmente quando você dedica não só seu tempo, mas todo o seu potencial em prol de uma empresa, e não tem os seus valores nem direitos respeitados, percebendo que no fim foi somente mais uma peça na grande engrenagem capitalista.
Dói não realizar um sonho, seja ele entrar numa faculdade, ou ter um filho, ou fazer a viagem dos sonhos.
Dói ver as injustiças sociais, gente reclamando do “miserê” de um salário de milhões, enquanto milhões de pessoas sofrem com a miséria humana de não ter comida em casa, de não ter escola para os filhos, de não ter trabalho, de não ter segurança, de não ter saúde digna.
Dói acompanhar as catástrofes naturais, os desastres ambientes ou urbanos, as guerras impiedosas que dizimam civis, a triste aventura dos imigrantes pelo mundo, a fome e as doenças em comunidades esquecidas pela sociedade, tudo, absolutamente tudo, movido pelo poder e pela ganância do homem.
Dói muita coisa, quando o nosso olhar vai além daquilo que a gente vê, quando nosso coração sente mais que nossos próprios sentimentos pessoas, quando a empatia se faz presente em nosso ser.
Mas dói mesmo é essa dor que é só nossa, que a gente sente quando não consegue dar conta de tudo ao nosso redor. E ela vai se instalando, primeiro como uma tristeza, depois como uma incapacidade e no fim como algo que não sabemos controlar e decifrar... Apenas dói, no silêncio de nós mesmos!
Até que um dia, você descobre que a dor, mesmo crônica, seja por um momento vai parar de doer. E nesse breve espaço de tempo, você vai perceber que resistiu, que suportou, que superou e que sobreviveu aos seus piores momentos. E mais: vai ver que você se fortaleceu, numa força também que o outro nunca vai sentir, porque é uma força só sua, algo divino que lhe foi dado para que você possa seguir adiante e entender, como já dizia Caetano, que “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”!
E você se redescobre menos dor e mais luz, um ser de Deus, único, forte, capaz... E segue, cantando e acreditando que “a cada um cabe alegrias e a tristeza que vier”!
E tá tudo bem sentir dor, porque ela também te faz mais humano!

10 de setembro: Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio

A Organização Mundial de Saúde alerta para o crescimento de casos de suicídio no mundo inteiro, com o aparecimento de novas faixas etárias e motivações, como por exemplo, o aumento de casos entre adolescentes, idosos e vítimas de catástrofes. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, alguns motivos que podem levar uma pessoa a cometer o suicídio são: perda de emprego e mudança financeira; bullyng escolar; discriminação por orientação sexual e identidade de gênero; exposição aos agrotóxicos que provocam diversas doenças, inclusive mentais; preconceito de raça e classe social; crises políticas e econômicas; agressões psicológicas e/ou físicas; abuso moral e sofrimento no trabalho, e posso incluir aí, por conta própria, o desrespeito aos direitos trabalhistas; conflitos familiares, desencadeados pela perda de parente querido e doenças crônicas e incapacitantes; sensação de abandono, principalmente entre os idosos; e, atualmente, os desastres, como o de Brumadinho e Mariana, que revelaram um aumento significativo de suicídios causados pela perda não só material (meios de subsistência, inclusive) e humanas (traumas, orfandade), mas de identidade, de pertencimento, de estresse, de preocupação, de descaso de autoridades, etc. Acrescenta-se a tudo isso, no atual momento em que vivemos, as pressões, críticas e preconceitos exacerbados e incitados de toda ordem: machismo, misoginia, feminicídio, antissemitismo, gordofobia, cyberbullying, antropofobia, racismo, etnocentrismo, xenofobia, dentre muitos outros. Empatia que é bom mesmo, ninguém pratica, ninguém compartilha, ninguém incita, apesar de muitas pessoas propagarem isso tão bem nas redes sociais, mas sem transformar a teoria em prática. Portanto, mais do que apoiarmos uma campanha, devemos, antes de tudo, praticar a empatia e o respeito à dor do outro, que na maioria das vezes é silenciosa, mas que ecoa como gritos e pedidos de socorro, que poucos estão verdadeiramente dispostos a ouvir! E que o setembro-amarelo seja todo dia!

• O texto é uma homenagem ao Setembro-Amarelo, mês dessa campanha super importante • 
Texto: Léia Silva / Imagem: Google

Nenhum comentário