Título original: Viver não dói
Autor(a): Leila Ferreira
Ano da edição: 2013
Editora: Globo
Gênero: Crônicas
Catalogação: Crônica Brasileira
Sinopse: Nesta obra, a autora pretende mostrar que viver não é fácil, como todos nós sabemos, e até os mais otimistas concordam que a vida é osso duro de roer. Mas é também um exercício apaixonante, que exige apetite, persistência e dentes afiados. "Claro que viver dói, mas dói mais ainda não viver, porque quem não aproveita a vida acaba sendo poupado do medo e do susto, mas deixa de desfrutar paisagens, deixa de ter a própria identidade", destaca a autora.
TRECHOS EXTRAÍDOS NA LEITURA DO LIVRO
“Viver não dói. O que dói é a vida que se não vive. Tanto mais bela sonhada, quanto mais triste perdida”. - Emílio Moura
“Viver dói. É claro que dói. Mas não viver dói mais, porque nos condena ao nada, nos rouba da nossa humanidade. Não viver é recolher aquele fio invisível que percorre topografias inesperadas - somos poupados dos sustos e do medo, mas deixamos de desfrutar as paisagens. O acovardar-se, ou o encolher-se, diante da vida custa caro”.
“Perto do sofrimento que produz o não viver (ou o apenas sonhar), a vida que se vive, por mais que doa, não dói nada”.
“A felicidade é a soma das pequenas felicidades”.
“Podemos viver momentos ótimos mesmo não estando acompanhadas e não há sentido em esperar um fato mágico nos fazer felizes”.
“Como tantos já disseram tantas vezes, aproveitemos o momento. E quem for ruim de contas recorra à calculadora para ir somando as pequenas felicidades. Podem até dizer que nos falta ambição, que essa soma de pequenas alegrias é uma operação matemática muito modesta para os nossos tempos. Que digam. Melhor ser minimamente feliz várias vezes por dia do que viver eternamente em compasso de espera”.
“Às vezes o inferno, de fato, são os outros. Quando tentamos nos aproximar daquela felicidade possível, esses outros com aspas acabam sendo uma pedra imensa no meio do caminho”.
“Viver em função da aprovação alheia não é viver, é representar”.
“Viver na expectativa da aprovação alheia traz um desgaste enorme. E achar que andar na linha traçada pelos ‘outros’ é meio caminho andado para a felicidade é um erro de avaliação que as pessoas mais lentas, às vezes levam décadas para perceber”.
“Aprendi cedo que felicidade não é coisa para pessoas desatentas. Chega quando a gente menos espera, dura menos do que a gente gostaria e vai embora sem dar satisfações. Quando você se dá conta, ela já virou a esquina há tempos - e sabe-se lá se volta ou quando. Talvez por isso a gente repita tanto o ‘eu era feliz e não sabia’ - não deu tempo de saber. Claro que também há a questão da nostalgia: quando a gente olha para trás, a tendência é dar um ‘upgrade’” no que vivemos. Às vezes, nem fomos tão felizes naquele determinado momento, mas a saudade que, por algum motivo, surge ou a insatisfação com o tempo presente nos faz ver o que passou com uma perspectiva diferente. O espelho retrovisor proporciona uma visão limitada, muitas vezes distorcida, da realidade”.
“Quando a felicidade (com letras minúsculas, sem itálico, sem negrito e sem pontos de exclamação) aparece no nosso caminho, estamos distraídos contabilizando problemas atuais ou fazendo planos para um futuro pouco provável e não percebemos que o que tanto buscamos está bem perto, a poucos centímetros. E, muitas vezes, no momento em que a gente exclama que ‘era feliz e não sabia’, a gente também está sendo feliz e não sabe. Vai perceber depois”.
“O tecido da felicidade é feito de fios quase invisíveis. Quando deixamos de procurar aquela felicidade que promete se deixar avistar a quilômetros de distância e apuramos o olhar para enxergar a felicidade possível, que não faz alarde e vira e mexe se mistura à tristeza, aí, sim, a gente é feliz e sabe - ou pelo menos deveria saber”.
“No mundo onde tudo se compra, a felicidade também virou produto, e passamos a acreditar na possibilidade descabida de adquiri-la ou de nos apossarmos dela como se fosse uma mercadoria qualquer. Não é: felicidade não se compra, não se encomenda, não se empresta, não se arrenda. A gente é feliz quando consegue, quando a vida permite, quando dá para ser”.
“Sentir-se infeliz não é nenhum sinal de incompetência ou de baixo poder aquisitivo. Basta existir para estar sujeito à infelicidade. Ou basta não estar anestesiado. Simples assim. Mas a gente se esquece da natureza da felicidade e da precariedade da nossa própria natureza. Queremos ser felizes a qualquer preço”.
“Achar que felicidade é céu sem nuvens e que somos obrigados a encontrar a felicidade plena porque tudo hoje prega o direito, ou o dever, de ser feliz é se afastar cada vez mais da felicidade possível. A obrigação de ser feliz é uma bobagem. A de ser muuuuito feliz, uma sandice. Mas, na cultura do muito, a gente acaba caindo nessa cilada”.
“Hoje há um excesso de sensações e um vazio de significados”.
“Sem traduzir o que somos e vivemos, vamos vivendo a esmo - e é no meio desse ‘a esmo’ que saímos atrás de uma felicidade que talvez só exista ‘no céu’, ou no ‘depois’. Uma felicidade que buscamos gastando muito, bebendo muito, namorando muito e fugindo do silêncio e das pausas que poderiam nos ensinar a criar significados”.
“Em matéria de felicidade, melhor deixar por menos - pelo menos enquanto estivermos por aqui - e correr atrás muito mais do sentido da vida que levamos do que da felicidade que achamos que ela tem a obrigação de nos garantir”.
“Às vezes, o que une duas pessoas que passaram uma vida juntas é o rancor”.
“Quando o amor deixa de existir, é melhor deixar que ele se vá - até para que outras histórias de amor possam nascer, mas, acima de tudo, para evitar que, junto com ele, tantas outras coisas essenciais sejam enterradas. Entre elas, a capacidade - dificílima - de eventualmente perdoar”.
“Apostar numa vida a dois é trafegar por caminhos acidentados, com curvas que exigem cautela máxima, acostamentos margeando abismos - tudo isso sem qualquer garantia de se chegar ao destino pretendido”.
“A morte é um inconveniente para a comunicação, não um obstáculo. Quando existe amor, memória e a vontade de manter viva a relação, ela se mantém”. - Isabel Allende
“Entre a infelicidade crônica e um desconforto eventual, fico com a segunda opção”.
“O casamento transforma pessoas agradáveis em tiranos domésticos”. - Laura Kipnis
“O passatempo preferido entre muitos casais é tentar modificar o cônjuge - e isso requer retórica e artilharia pesadas”.
“Só merece um parceiro ou uma parceira que se comporte de forma civilizada no dia a dia quem é capaz de dar o troco (no bom sentido) com a mesma moeda. A gentileza tem que ser uma rua de duas mãos - inclusive (ou principalmente) entre casais”.
“O que é gostoso quase sempre vem acompanhado de calorias - muitas calorias. Por isso conforta, nutre a alma. Mistura sabor de verdade com memórias e sentimentos”.
“Quando a atitude que prevalece é ‘os outros que se danem’, é sinal de que a noção de respeito está agonizando”.
“Em Minas, queijo com queijo não é redundância nem falta de imaginação, mas sinal de paladar convicto”.
“Há horas em que não nos interessamos por nada que nossos semelhantes tenham a dizer, por mais interessantes que sejam os semelhantes em questão. Queremos tudo naquela hora, menos conversar, seja pessoalmente, por telefone ou por e-mail. O corpo está pedindo silêncio, a cabeça está pedindo silêncio, e conversar, que pode ser a coisa mais prazerosa do mundo, naquele momento vira punição”.
“O que mais nos cansa quando falamos com nossos semelhantes não é ter que ouvir o que eles dizem - é ter que ouvir a nós mesmos”.
“Amor só vale quando é sincero. Quando não tem sinceridade, papel não segura. Amor atrapalhado, melhor separar. Os dois não estão pregados com prego...”.
“Se você acha que a pessoa com quem se casou está feia, é sinal de que você está mais feio ainda”.
“Dinheiro só serve pra família brigar. O que a gente tem que deixar é leitura e estudo, e isso eu lutei muito pros meus filhos ter”.
“É bom ter coisas, mas bom mesmo é não ter dívidas. (...) ‘Dívida dá depressão, porque preocupa e envergonha a gente’.”.
“Os vivos têm muito o que aprender com os mortos. Eles não amolam ninguém, não fazem barulho, não falam mal dos outros, respeitam todo mundo...”.
“As narrativas que compõem o viver têm idas e vindas, se misturam e nem sempre se deixam decifrar - ou concluir”.
“Quando a gente aprende a abrir mão, seja de objetos, pessoas, sentimentos ou lugares, em tese fica mais fácil encontrar a serenidade, a paz de espírito, o equilíbrio interior e até a felicidade”.
“Talvez o grande desafio seja levar não o que se viu e o que se viveu, mas aquilo que nos permite ver e viver o que nos faz bem”.
“Sei o quanto é difícil criar essas pausas e encontrar lugares que acolham nossos cansaços, nossas angústias e nossos medos. Mas é preciso buscar a possibilidade da pausa e as serras, planícies, desertos ou oceanos que nos devolvam a nós mesmos”.
“Muitas vezes o que imaginamos não existe. Constatar o abismo que separa o que se esperava com o que a realidade oferece é uma das grandes causas de frustração dos turistas”.
“Quando há muito o que sentir, resta pouco o que dizer”.
“Envelhecer é ter que matar dois leões (jovens) por dia. Eles famintos, e a gente sem energia”.
“A sabedoria vem quando a gente menos precisa dela. O tempo livre chega quando temos menos saúde e disposição para desfrutá-lo. O discernimento para escolher aparece quando as escolhas já foram drasticamente reduzidas. E ficamos com uma infinidade de verbos nas mãos, mas sem frases suficientes para utilizá-los”.
“Revive-se para estar vivo, volta-se para o passado para acreditar no depois”.
“Talvez a gente escolha o que consegue, e não o que gostaria de fazer. Nossas limitações definem em grande medida como vamos viver”.
“Há uma memória que transforma casas em lares. Há um acervo que conta histórias. Quando vamos nos desfazendo desses registros de vida pelo caminho, trocando plantas, louças e sofás para se acomodar à nova casa, passamos a viver em imóveis.”.
“O certo de hoje pode se transformar no equívoco monumental de amanhã”.
“Eu sei que está errado, mas a gente tem que fazer alguma coisa errada na vida, senão fica tudo muito sem graça”.
“Viver é, eventualmente, poder escorregar ou sair do tom”.
“Obedecer sempre, ou acertar sempre, é fazer um pacto com o óbvio, renunciar ao inesperado”.
“Não temos que fazer tudo o que esperam que a gente faça nem acertar sempre no que fazemos. (...) O certo, com ou sem aspas, pode até ser bom. Mas às vezes merecemos aposentar régua e compasso”.
“Estar deprimido é estar ao mesmo tempo só e mal acompanhado. Aí não há como não sentir solidão - aquela que dói, encosta na alma, deixa o mundo opaco”.
“Quando a gente aprende a apreciar o carinho da liberdade que vem com a solidão, o medo de estar só passa. E, ironicamente, quando isso acontece, quando nos sentimos bem sozinhos, geralmente é sinal de que estamos mais preparados para conviver e formar vínculos, ou seja, para desfrutar de outros carinhos. Então fica-se junto por escolha, por vontade, e não pelo medo de viver só, que costuma ser o ponto de partida de tantos relacionamentos complicados”.
“Morar sozinho é muito diferente de estar só e mais diferente ainda de se sentir só. (...) Para se sentir profundamente só, nada ‘melhor’ do que um casamento infeliz”.
“Nada garante tanto o sentimento de solidão quanto o fato de você estar casado com a pessoa errada. (...) A grande ironia é que muita gente se casa exatamente por medo da solidão e acaba se separando porque passou a se sentir mais só”.
“A solidão é o fundo último da condição humana”. - Octavio Paz
“O viver só que se escolhe pode virar um ensaio para um viver só que eventualmente a vida imporá e para o ser só que nossa condição inevitavelmente nos impõe”.
“Viver só pode nos deixar mais preparados para enfrentar o equilíbrio delicado das relações amorosas. É um paradoxo, mas às vezes passar um tempo vivendo sozinho é exatamente o que a gente precisa para conviver melhor, inclusive na vida a dois. Quando aprendemos a ficar sós e bem, nos sentindo inteiros, o outro deixa de ser a âncora, aquele que nos completa, o salvador da pátria ou nosso salvador”.
“Estando entre muitos, ‘vivo como muitos e não penso como eu; após algum tempo, é como se me quisessem banir de mim mesmo e roubar-me a alma. Aborreço-me com todos e receio a todos. Então o deserto me é necessário, para ficar novamente bom”. - Nietzsche
“Sei que viver dói. Mas sei também que não viver dói mais. É a dor incontornável das lacunas, do vazio”.
“Neste mundo repleto, viver é às vezes o mais doloroso dos exercícios. Mas é também a possibilidade de nos depararmos diariamente com o que nos apaixona, nos move, nos arrebata, nos causa espanto, nos faz rir. (...) Uma coisa é certa: não há monotonia. Monótono é não viver. Monótono é apenas sonhar e deixar que a vida se perca. A vida que não se vive dói. A vida vivida... dói também, mas é bem menos. E sempre vale a pena.”.
“Metade dos casamentos naufragaria se não fosse o senso de humor”.
“Mais vale um par de olhos verdes que expressam o que é preciso do que um adjetivo bem utilizado”.
“Fugir da tecnologia e, ao mesmo tempo, garantir o acesso a ela é um dos muitos paradoxos nos quais a gente se equilibra hoje - ou tenta se equilibrar”.
“Quer solidão maior do que essa espécie de orfandade de nós mesmos, quando passamos a carregar dentro de nós um estranho que tem nosso nome e nosso rosto, mas que não reconhecemos e com quem não temos a menor afinidade?”.
“Vida a dois é coisa que não se copia. É igual antidepressivo e dieta para emagrecer - o que funciona maravilhosamente bem para seus amigos pode ser um desastre para você”.
“Nunca parei para pensar nas implicações da solidão, mas sempre soube que precisava dela para viver”.
Texto e Imagem: Google
📚 Biblioteca Pessoal

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