Noites do sertão: Dão-Lalalão / Buriti


Título original: Noites do sertão: Dão-Lalalão / Buriti
Autor(a): João Guimarães Rosa
Ano da edição: 1988
Editora: Nova Fronteira
Gênero: Novela
Catalogação: Novelas Brasileiras
Sinopse:  A sensualidade como força empolgadora que se sobrepõe a convenções e preconceitos é o motivo comum das duas novelas que forma "Noites do sertão", "Dão-lalalão" e "Buriti".
A primeira é uma história de um amor sensual; a segunda, uma história da sensualidade sem amor.
Se na maioria das obras de Guimarães Rosa a fusão entre personagens e natureza é total, aqui as personagens destacam-se nitidamente da paisagem, e o centro de atenção do autor passa do meio ambiente para as figuras que o povoam. E nessa trama de sensualidade e paixão, a grande força dominadora é das mulheres, entre as quais estão algumas das personagens mais marcantes da galeria feminina rosiana.
TRECHOS EXTRAÍDOS NA LEITURA DO LIVRO
• Dão-Lalalão
“Separaçãozinha breve, uma ou outra, meu bem, é a regra de primor: tu cria saudade de mim, nunca tu desgosta...”.
“Vida era uma coisa desesperada”.
“Num formo de mato como aquele, no estorvo, sempre podia haver alguém emboscado, gente maligna, inveja do mundo é muita. Sujeitos que mamaram ruindade, escorpeiam, enganoso. Uns que não acertaram com o mereço de acautelado viver, suas famílias, seu trabalho”.
“Não desfaz no carinho de quem a gente gosta, só por causa que os estranhos estando vendo”.
“Sempre que o ponto distava dó de longe, muito sertão, num ermo só perto do constante de Deus, isso sim”.
“A felicidade é o cheio de um copo de se beber meio-por-meio”.
“Chegar de volta em casa era mais uma festa quieta, só para compor da gente mesmo, seu sim, seu salvo. De tão esplêndido, tão sem comparação, perturbando tanto, que sombreava um medo de susto, o receio de devir alguma coisa má, desastre ou notícia, na última da hora, atravessasse entre a gente e a alegria, vindo do fundo do mundo contra as pessoas”.
“A grama que burro não comer, não presta mesmo p´ra gado nenhum”.
“Mulher só fica velha é da cintura para cima...”.
“Cem e cento são as coisas que a gente tem de aprender, o que o mundo descobre e essas mulheres sabem; às vezes, de começo, perturbam, um homem simples se espantava”.
“Tudo o que muda a vida vem quieto no escuro, sem preparos de avisar”.
“Mulheres assim leves assim, dessoltas, sem agarro de família, sem mistura com as necessidades dos dias, sem os trabalhos nem dificuldades: eram que nem pássaros de variado canto e muitas cores, que a gente está sempre no poder de ir encontrando, sem mais, um depois do outro, nas altas árvores do mato, no perdido coração do mundo”.
“Amigo é: poucos, e com fé e escolha, um parente que se encontrava. Um bom amigo vale mais do que uma boa carabina. Se aproximavam, num meio abraço, as mãos se palmeando as costas”.
“O brando aprazível na fala, esse modo sincero no olhar, nos olhos grandes, a gente ia sentindo dele um arejo de bondade, um alastro de sossego”.
“Deus podia ter botado os cegos no mundo, para vigiarem os que enxergavam”.
“Homem não se pertence, Mas, um chegou, viu mulher, acabou-se o pior. Começa tudo, se tem nova coragem...”.
“Derradeiramente agora, ainda está muito melhorado. Um progresso, como Deus ajuda”.
“E ainda mais forte sutil do que o pedido do corpo, era aquela saudade sem peso, precisão de achar o poder de um direito bonito no avesso das coisas mais feias”.
“De homem e doce bem feito, o quieto é que eu mais aproveito... Comigo é: pão-pão, beijo-beijo!”.
“Assunto verdadeiro, cada um guarda para si consigo. Cada qual seu rumo”.
“Vida de um é caminhar por fora, beira pasto, só no traço da obrigação. Com menos, se chegava”.
“A essas horas de passar, correr o tempo, depressa, de um ou outro jeito estar tudo acabado”.
“Mau dever de um amigo é o sem pior, terrível como o vazio de uma arma de fogo...”.
“Amor é coragens. E amor é sede depois de se ter bem bebido...”.
“Acho que gosto demais da conta... Só posso é gostar de você, nas miudezas de minha vida toda...”.
“Em desde que seja com você, vou qualquer hora p´ra qualquer parte, e vou contente de verdade, sem sobrosso nenhum...”.
“Um homem não é um homem, se escapa de não pensar primeiro na mulher”.
“Honra é de Deus, não é de homem. De homem é a coragem!”
• Buriti
“A gente pode aprender sempre mais, por prática’”.
“Viver sempre vale a pena”.
“Quem souber o que é a sorte, sabe o que é Deus, sabe o que é tudo”.
“A vida remexe muito. A felicidade mesma está remudando de eito, e a gente não sabe, cuida que é infelicidade que chegou. Mas quase noção nenhuma não tem boa explicação, quando se quer achar”.
“Viver tinha de ser um seguimento muito confuso”.
“Nasci aqui, assisto aqui. Desde, desde. Consolo que tenho: é que se a rico não vim, também mais pobre não sou”.
“Quem tapa a noite é a madrugada”.
“Envelhecer devia de ser bom – a gente ganhando maior acordo consigo mesmo. Meninice é uma quantidade de coisas, sempre se movendo. A velhice também, mas as coisas paradas, como em muros de pedra sossa”.
“Ódio de pessoa pode matar, devagaroso”.
“Como um movido em mente, resenha do sofrido por tantas lembranças - que uma, sozinha, são. Tudo o mais me cansa”.
“O que a gente deve de deixar para trás é a poeira e as tristezas...”.
“A noite é o que não coube no dia, até”.
“Nuvens que o monte de um vento suspende e faz, assim como todo avo de minuto é igualzinho ao de depois e ao de dantes, e o tempo é um espelho mostrado a balançar”.
“O mundo era feito para outro viver, rugoso e ingrato, em vão se descobria um recanto de delícia, caminhozinho de todo agrado, suas fontes, suas frondes - e a vida, por própria inércia, impedia-o, ameaçava-o, tudo numa ordem diferente não podia reaver harmonia, congraçar-se!”.
“E entendia: um despertar- despertava? E a vida inteira parecia ser assim, apenas assim, não mais que assim: um seguido despertar, de concêntricos sonhos - de um sonho, de dentro de outro sonho, de dentro de outro sonho... Até a um fim? Sossegara-se. O calado sussurro. Como se se dissesse: ‘Meu dever é a alegria sem motivo... Meu dever é ser feliz...”.
“Deus nos dá pessoas e coisas, para aprendermos a alegria... Depois, retoma coisas e pessoas para ver se já somos capazes da alegria sozinha... Essa - a alegria que Ele quer... - descobria, sonho salta sonho”.
“De repente, então, foi um dia. Todos os dias são de repente”.
“A vida não tem passado. Toda hora o barro se refaz. Deus ensina”.
Texto e Imagem: Google 
📚 Biblioteca Pessoal  

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