Mas, pra mim, essa imagem traduz muito mais do que parece, e vai muito além daqueles que olham simplesmente com o olhar crítico e até desumano, de quem zomba de um "louco conversando com uma estátua"!
Primeiro porque não acho que seja um louco, mas um sábio e um privilegiado, por poder conversar e ser ouvido tão atentamente por este grande poeta...
Segundo, porque penso que, para Drummond, que escreveu o poema "No meio do caminho tinha um pedra", talvez seja possível entender essa cena com a leveza que ela merece! Sim, os poetas entendem esse tipo de beleza que pobres mortais não conseguem captar!
Porque nessa imagem, mais do que um rapaz pobre e sujo, e aparentemente desajustado por conversar com uma estátua, há um ser humano à margem de uma sociedade, que é, sem dúvida, a pedra no caminho de muitos de nós! Há ali um cidadão, como tantos outros, invisível aos olhos de muitos, alguém querendo ser ouvido, pedindo para ter voz, e que encontrou em Drummond um amigo, talvez o único amigo que vai ouvi-lo pacientemente...
Observe que Drummond está tão sereno, numa postura atenta e interessado na conversa... Confesso que até eu me sentaria ao lado dele e me perderia jogando conversa fora! E que me chamem de louca, mas o faria com prazer!
Por isso, que possamos, ao invés de apenas zombar dessa imagem, olhá-la com olhos mais humanamente misericordiosos, pois, antes de julgar as pessoas sem saber quais e quão pesadas são suas lutas, devemos lembrar que cada um de nós tem as suas pedras pelo caminho...
No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
• Poema de Carlos Drummond de Andrade extraído do site "Alguma Poesia" •
Texto inicial: Léia Silva / Imagem: Google

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