A tal da Gramática Tradicional


Você é do tipo que se acha expert em Gramática? Hummm, vai acreditando nisso...até entrar na faculdade e se deparar com a disciplina de Gramática Tradicional no curso de Letras... Num primeiro momento vai até pensar assim: ahhh, Gramática, mas isso é muito fácil.
É muito fácil se tudo começasse e terminasse na conjugação de verbos... Eu amo, Tu amas, Ele ama, Nós amamos, Vós amais, Eles amam... De cara vão te contar que já não é mais assim que se faz. Agora é Eu amo, Você ama, Ele ama, Nós ama, Vocês ama, Ele ama... Ou seja, tudo igual, né?! Sim, tudo igual, e se você ousar falar que está errado, porque aprendeu assim e assado, vai levar um dedo na cara te acusando de estar praticando o preconceito linguístico. Sim, é isso mesmo, agora tem isso também na língua portuguesa, tá, você aprende de um jeito, fala de outro, escreve de outro e tudo está certo. Ou teoricamente certo, né!? Porque o negócio é o seguinte: você precisa aprender o que é certo pra fazer errado, ou aprender o que é errado pra fazer certo! Tipo isso, entendeu? Não né!? Tá, então passa adiante... Vamos começar a estudar o sujeito da oração!
Isso é outra coisa que você deve achar super fácil, afinal, te disseram em algum momento da sua vida escolar que toda frase começa com o sujeito! Pior que isso, é que você acreditou! Mas isso é fácil de resolver, pois sabendo que existe o sujeito oculto e o indeterminado, você logo logo vai encontrar os outros! Aí te falam que precisa saber o que torna um sujeito oculto ou indeterminado, pois existem regras pra identificá-los. Como assim? Ele não é oculto? Ou indeterminado? Regra pra quê??? Pra você entender que em Gramática o que parece nunca é! Pra começar, esquece o lance de que a frase começa com o sujeito, pois esse tal sujeitinho é mestre pra ficar mudando de lugar. Por exemplo, vai lá encontrá-lo na célebre frase do nosso Hino Nacional: "Ouviram do Ipiranga as margens plácidas / De um povo heróico o brado retumbante"! Ahhhh, vai dizer também que essa é fácil! Sério, não é não, e eu fiz questão que anotar isso e decorar pra nunca mais esquecer! Mas, ok, pode ficar pior... pois esse tal sujeito costuma se disfarçar, podendo ser representado por um pronome, que por sua vez você precisa saber se é substantivo ou adjetivo... É isso aí, mas tá bom, você aprendeu essa parte...
Então passa para o predicado, que pode ser nominal, verbal, verbo-nominal! Logo te lembram que para fazer isso é preciso saber bem o que é verbo! Aí você dá pulos de alegria, afinal, você sabe tudo de verbo, né!? E te falam que é só saber a transitividade do verbo... Vixe, o que será isso? Ah, é saber se ele é transitivo direto, transitivo indireto, intransitivo, bitransitivo... Coisa muito desesperadora pra quem achava que verbo era só saber conjugar! Não, não é... E você então conclui que não sabe nada de verbo! E antes que consiga reaprender os verbos pra encontrar o tal predicado, te pedem pra determinar os complementos e os adjuntos, que também podem ser nominais ou verbais, e que tem muita semelhança entre si, por isso você precisa ficar muito atento e saber o que cada um vai desempenhar em tal frase. Hã?! Tá!
Você respira, finge de novo que aprendeu e segue, porque já estão te falando das orações coordenadas e subordinadas! Que para aprendê-las basta saber identificar o sujeito, o predicado, a tal da transitividade do verbo, como também o objeto direto e indireto, o complemento nominal e verbal, o adjunto adnominal e adverbial e também não pode esquecer do predicativo, que é do sujeito ou do verbo! Simples, não? Sim, claro! Até porque te falaram que as orações coordenadas são tranquilas de se aprender, pois só têm dois tipos, as sindéticas e assindéticas! Como se você soubesse muito o que é isso, descobre que as sindéticas têm cinco classes: aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas e explicativas! Conclui mais uma vez que nada é tão fácil quanto parece... Mas, de novo respira e vai encarar as orações subordinadas, afinal, elas são um pouco mais complexas! Logo descobre que, na verdade, são muiiiito complexas! Pra começar formam três grandes grupos: adjetivas, substantivas e adverbiais, que por sua vez, subdividem-se em dezoito subgrupos! Isso mesmo, dezoito, 18, de-zoi-to!!! Tentando continuar respirando com tanta informação, você aprende que algumas delas podem ser reduzidas de infinitivo, gerúndio ou particípio! E que quando for classificá-las você deve escrever o nome completo, tipo assim, oração subordinada substantiva objetiva direta reduzida de infinitivo... Tudo muito simples, né?!
Mas como não é necessário entrar em desespero, afinal, a disciplina tem o seu vade mecum e é só consultar quando precisar, como aconselha seu professor, você, feliz da vida, vai lá e pega sua Gramática, sua tábua de salvação! Começando a folhear, você se pergunta se ela vem com manual, pois, percebe rapidamente que pra achar alguma coisa, mesmo com índice, é um deus-nos-acuda. E que quando acha, descobre que as cinco ou seis aulas que o professor falou de determinado assunto estão resumidas em meia página. E que os exemplos são sempre frases curtérrimas, e se não amar loucamente a literatura, começa a odiar imediatamente todos os autores brasileiros por terem servido de exemplo e escreverem de forma tão retrógrada... E que, para utilizá-la, é necessário primeiro fazer um estudo intensivo dos seus capítulos, destacar o que precisa com marca-texto, encher de marca-páginas multicoloridas e...Então carregar sorridente a sua Gramática que pesa bem uns dois quilos, mas parece ter peso de chumbo! Depois de deixá-la mais parecendo uma fantasia de carnaval de tão colorida, pensa com seus botões que ela até parece um samba-do-crioulo-doido!
Sim, isso é Gramática! A tal da Gramática Tradicional, que tem gente que ama, mas alguns pedem pra entrar e reza pra sair...Mas à parte tudo isso, você precisa ainda saber o que nenhuma gramática te ensina! Que o sujeito mais importante é você! E que o percurso pode ser árduo e transitivo, mas necessário! Afinal, a Gramática Tradicional é um instrumento de empoderamento que pode te salvar daquele preconceito linguístico, que não é somente do falar e escrever, mas de ser alguém na sociedade, com todas as suas especificidades! Por isso, além de aprender as regras, grave, decore e guarde pra vida toda que saber Gramática é saber que você é alguém que tem predicativos, que sabe ser adjunto, que complementa e que nunca, nunca mesmo, será um simples objeto.
Texto: Léia Silva / Imagem: Google

2 comentários

  1. Muito bom! Gostei do seu jeito descontraído de escrever. Ahh, Letras! :D

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    1. Obrigada, foi só um ensaio, hehe, tenho muito que aprender ainda... Beijo

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